Existe mulher para casar ou o casamento é uma prisão condicional?

Olá Urso, tenho acompanhado seu blog há pouco tempo, talvez esse assunto já tenha sido debatido. Gostaria de entender o casamento, nele tudo fica fácil e dificil ao mesmo tempo, exemplo, o sexo, fica sem graça, monótono, por mais que tente sair daquela maldita rotina, ela sempre volta… Minha esposa está sempre na negativa para qualquer coisa, em qualquer assunto, vem sempre uma negativa…
Lendo um post anterior com o título: “Existe Homem para casar?” fiquei no pensamento: “E mulher? existe mulher pra casar?”. O que é realmente o casamento? Uma prisão condicional? Sou apaixonado pela minha esposa, mas é complexo essa relação e não sentir a reciprocidade. Abraço. Frustrado
Caro Frustrado, achei a pergunta muito bacana, envolve uma série de dúvidas que todos temos em relação ao nosso maior compromisso afetivo que fazemos por escolha própria, o casamento e tudo o que tem nele, de bom e ruim.
Se eu fosse escrever tudo o que poderia sobre ele, daria um livro e provavelmente seria banido pela igreja católica, afinal, boa parte da receita dela é proveniente das festas que o povo topa fazer para casar. Todo casamento nos moldes tradicionais é assim, é padre, coroinha, violinos, bolo, festa, vestidos, ternos, flores e muito dinheiro desperdiçado.
Calma, não estou falando que não é para deixar de haver casamentos, longe disso, mas percebo que as motivações para casar precisam estar mais alinhadas com a essência do que ele deveria representar.
Antes de ficar avaliando se alguém pode ser para casar, creio que cada um deveria se perguntar sobre o que deseja do casamento e o que ele é. Confie em mim, poucas pessoas o fazem, simplesmente querem casar.
Se não quer pensar na vida, melhor não ler o resto da resposta…
Expectativas raramente atendidas
Cada um tem uma expectativa diferente do que é o casamento, mas há algo em comum para quem investe nele: todos percebem que o mundo não era como esperavam. Uns esperavam que seria muito melhor, outros, muito pior, mas o fato é que raríssimas as pessoas que realmente acertaram no exercício de futurologia.
Sabe por que isso acontece? Simples, misturamos uma decisão racional, a de conviver com outra pessoa em uma relação de muita exposição, com nossos anseios afetivos. Por isso acho errado quando alguém fala que o homem é um animal racional, se fosse, 80% dos casamentos não aconteceriam.
Não estamos acostumados a escolher, conquistar e manter
A capacidade de escolha é que bagunça tudo, com nossos familiares isso não acontece, pois os “herdamos” e convivemos com eles por muito tempo. De certa forma, eles também nos herdaram. Acostumamos-nos a ter relações afetivas dessa forma, como se não precisássemos cultivá-las e erramos ao transportar esse comportamento para os relacionamentos com pessoas que escolhemos. É plenamente normal que nos esqueçamos da conquista diária do parceiro ou parceira, afinal de contas, todos temos uma vida fora do relacionamento, certo?
Trabalhamos, estudamos, discutimos por bobagens, nos aborrecemos no trânsito e por aí vai. É natural que com tanta coisa acontecendo o relacionamento acabe por ficar em segundo plano na melhor das hipóteses, geralmente ele vem lá pelo quarto ou quinto plano.
O que acho estranho é a falta de crença quando as coisas não dão certo. É óbvio que, com tamanho descaso com uma relação “não herdada”, algo saia errado. Mesmo assim, ao sinal das separações os envolvidos ficam abismados. Tendência natural do ser humano, culpar ao próximo, esquecendo-se de que não fez a lição de casa. Em outra resposta escrevi sobre os motivos das relações acabarem.
Necessidades e diferenças
Fora a falta de comprometimento com a relação, outro ponto de conflito é que todos têm necessidades afetivas diferentes, provavelmente, oriundas de sua formação genética combinada a sua criação e ao meio em que viveu. Quase nunca isso é posto de forma clara, até porque as pessoas têm vergonha, medo ou falta de tato para tocar nesses assuntos.
Essas diferenças vêm à tona em algum momento, quando não acontece de forma pacífica, acontece durante uma briga. Se não conheceu melhor a pessoa, é na hora que o pau come é que você conhece.
Casamento é igual bicicleta, é feito para levar tombo quando não encontramos o equilíbrio.
Muitas vezes os problemas acontecem antes mesmo do famigerado “Sim” na hora do altar. Dependendo da noiva, o noivado é o pior dos momentos. Quem sobrevive a uma noiva neurótica para que tudo saia perfeito pode se oferecer para mediar a paz na Palestina pela capacidade de gerenciar conflitos. Ou então merece ser o próximo Buda pela sagacidade em ignorá-la.
O que é o casamento
Respondendo a sua pergunta sobre o que é o casamento, de forma resumida, casamento é uma união entre dois estranhos, com hábitos e cargas emocionais diferentes, que decidem ficar juntos contrariando a lógica.
Isso quer dizer que é ruim? De forma alguma! Casamento é muito bom, da mesma forma que passar pela infância e adolescência. Você aprende muito mais sobre o que é ser gente, entende a diferença do que é essencial e do que é desejável, passa bons e maus momentos que lhe engrandecem e ensinam que a vida é muito mais complexa do que você achava quando criticava seus pais enquanto cheirava a leite. Mas devo advertir: tudo isso só acontece se você não estiver prestando atenção nos programas de televisão ou olhando para o umbigo enquanto o mundo gira.
Não existe mulher para casar
O que nos leva a sua outra pergunta, sobre a existência de mulher para casar. A resposta básica é não, não existe. Nem mulher e nem homem. Frutos da criação divina ou da evolução de partículas cósmicas, mesmo assim, não temos nada em nossos organismos que tenha uma função para o casamento. Uma tecla “SAP” para traduzir o que o outro diz seria ótimo, ou ainda um botão de volume, fenomenal, mas não, nada disso está em nós. Nascemos para ouvir, falar e andar. Casar não estava nos planos do destino.
Podemos nos casar ou não, questão de escolha. Dentro disso escolhemos pessoas com que temos afinidades, o que resulta em mais problema, seria muito mais sensato se pensássemos nas diferenças que podemos suportar. A chance de quebrarmos a cara seria menor.
É aí que entra a separação do que é essencial e do que é desejável. Mulher para casar é aquela que atende seus requisitos essenciais, o que varia muito de pessoa para pessoa conforme expliquei antes. Para uns, a mulher deve ter tido poucos ou nenhum parceiro, para outros, muitos. Machismo ou feminismo à parte, devemos concordar que é direito individual ter preferências e expectativas. Se o sujeito quer uma virgem, problema dele.
Não serei hipócrita, não gostaria de me casar com uma mulher que tivesse dormido com meus amigos e também não esperaria que uma mulher quisesse casar comigo depois que saí com suas amigas. Mas isso é só um dos itens, temos muitos mais, seria uma bobagem polarizar uma discussão tão grande em um ponto tão pequeno. Se eu morasse em uma cidade pequena, onde todos se conhecem, acredito que isso não me incomodaria.
O critério do essencial pode mudar de acordo com os anos. Por isso acredito que casamentos duradouros podem dar certo, desde que feito por pessoas adultas, conscientes da doação que ele exige para funcionar. Fora disso, todo o resto é loteria.
Grande abraço!
Obs. Se sua esposa só te dá negativas, acho que está na hora de uma boa conversa para reavaliar os rumos do casório.
Comentários
Comentários
Powered by Facebook Comments